Cultura é a herança social. É todo o conhecimento acumulado pelas pessoas ao enfrentarem situações e desafios no cotidiano.
Cada pessoa, motivada pela necessidade ou interesse e sustentada pela prontidão, fará continuamente conhecimento ao buscar um referencial diferente, que permita a construção de conceitos novos e, por sua vez, sustente comportamentos, atitudes renovados.
As ferramentas que estão à disposição do ser humano nessa busca de referenciais diferentes são muito variadas.
A mediunidade é uma dessas ferramentas que podem ser utilizadas para o crescimento do ser humano, mas o seu conceito, utilizado pelo senso comum, deve ser modificado.
No entendimento do Espiritismo, mediunidade não é sagrada, não é mística, não é mágica, não é sobrenatural.
Não se alcança através de rituais ou de fórmulas predeterminadas.
A sua prática é racional, equilibrada, transparente, fruto da persistência e da continuidade.
O seu exercício envolve objetivo, planejamento e estruturação do processo.
A mediunidade não serve para "falar com os mortos", pois os espíritos desencarnados não se enquadram nesta concepção do imaginário da cultura material.
A mediunidade não se reduz a um balcão de atendimento ao qual se recorre para resolver problemas.
Não serve para dizer o que as pessoas devem fazer ou para decidir seu futuro, tolhendo o seu livre-arbítrio.
Para a Doutrina Espírita, mediunidade não deve ser vista como "transe".
Mediunidade é sintonia e troca de experiência entre espíritos desencarnados e encarnados.
Não há perda de consciência, não há anulação. Há soma das experiências das partes envolvidas, trazendo superação.
A mediunidade não "serve contra mau olhado" , não "serve para ganhar na loteria", não serve para justificar comportamentos anormais.
Não "serve para desobsidiar espíritos". Não é "dom", não é "graça", não é castigo ou punição.
É trabalho contínuo para a construção de um momento diferente, evidenciado no comportamento de cada um.
A mediunidade não faz milagres. Não concede "poderes" especiais. Ela não é fonte de todo o conhecimento.
Os espíritos encarnados e os desencarnados envolvidos no processo mediúnico só conhecem alguma coisa na medida de suas experiências e de suas vivências.
A mediunidade não é exclusiva de algumas pessoas. Ela é uma capacidade, uma faculdade do espírito, que se aperfeiçoa pelo exercício e esforço pessoal.
Ela é de todo o grupo cultural e está intimamente ligada aos seus valores e sentimentos.
A mediunidade não está pronta e acabada, transforma-se e modifica-se ao longo do tempo, acompanhando o momento emergente, as situações vividas pelo grupo, a evolução das pessoas.
As pessoas evoluem pela soma de suas experiências e das experiências acumuladas pelo grupo social.
Em constante crescimento interior, cada pessoa é diferente das outras porque vive experiências únicas ao longo de sua trajetória de vida.
Ao ser colocada diante de novas situações, procura encontrar respostas em seu conhecimento acumulado ou no conhecimento acumulado de outras pessoas, estejam encarnadas ou desencarnadas.
Exercitar a mediunidade é buscar e encontrar respostas para as questões das pessoas e da sociedade, através da comparação dos referenciais de valores, idéias e sentimentos do polissistema material e do polissistema espiritual, úteis para a evolução da pessoa e do grupo.
Quando uma pessoa elabora um produto mediúnico está procurando, limitada pela prontidão do grupo cultural, evidenciar questões e/ou respostas novas para situações do social.
Portanto, o seu produto é, antes de tudo, um produto cultural, com conceitos universais, alternativos, especialistas e individuais, e caracterizado por uma forma, com um significado e com uma função.
Mediunidade é instrumento que auxilia cada pessoa na construção do novo, através do rompimento de seus limites, ampliando a visão de si mesmo, dos outros, da natureza, de Deus.
Mediunidade é expressão de identidade, é sintonia e troca de experiência. Mediunidade é interação entre os polissistemas material e espiritual.
Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da natureza material, Deus concedeu ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais.
Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do Espaço e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos.
Para penetrar no mundo invisível, Deus lhe deu a mediunidade (KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, capitulo 28, it. 9).
Sabemos que todos nós somos médiuns, cada um possui um grau de mediunidade, alguns mais ostensivo que outros, porém todos médiuns.
Entendam agora sobre algumas mediunidades mais frequente nos centros espíritas:
Mediunidade de psicofonia: Utilizada como instrumento pelo qual o espírito se comunica pela a fala. Há uma ligação pelo o perispírito do medium, permitindo assim o espírito passar o que quer transmitir ao médium, fala, visão e movimentos.
Mediunidade sensitiva: Utilizada para sentir presenças dos espíritos. Pessoas que utilizam desta mediunidade conseguem sentir as impressões do desencarnado, se são boas ou más.
Mediunidade audientes e clarividentes: Utilizada para ouvir e ver os espíritos. Na audição ela pode escutar tanto como voz interior(mente), como ouvir na mesma intensidade da voz de um encarnado, já na visão quem ver não são os olhos, é a alma, por tanto o médium pode enxergar tanto de olhos fechados como abertos.
Mediunidade intuitiva e psicográfica: É Utilizada como transmissão de pensamento do espírito para o medium. No caso da psicografia, o espírito não atua na mão do medium, ele atua na alma que consequentemente dirige a mão do medium que dirige o lápis.
Mediunidade de cura: Utilizado para tratamentos e curas espirituais, onde o medium consegue praticar a cura somente através das mãos e pensamentos, utilizando a energia e o magnetismo recebido dos espíritos e atuando em cima do enfermo sem nenhum tipo de medicamento.
Mediundade inspirada: Todos aqueles que mesmo acordados ou dormindo, recebem pelo o pensamento comunicações estanhas e intuições podem se considerar como médiuns inspirados. A mediunidade atua como transmissão de pensamentos de espíritos de luz ou não, muito utilizado por nosso anjo da guarda, que utiliza da mediunidade para nos guiar e aconselhar para o caminho do bem.
Mediunidade de pressentimento: Mediunidade para prever ou senti acontecimentos que estão por vim. Essa mediunidade se desenvolve com o tempo e estudo.
O médium pode desenvolver mais de um tipo de mediunidade, tudo vai depender da sua necessidade.
O aprimoramento da faculdade mediúnica deve merecer especial atenção dos dirigentes da Casa Espírita.
O primeiro passo é oferecer condições para a formação doutrinária básica (conhecimento espírita, em geral, e da mediunidade, em particular) do trabalhador espírita, a qual, no principiante, pode estar ou não associada ao afloramento da sua mediunidade.
Como regra geral, o principiante espírita é encaminhado ao grupo mediúnico, após concluída a sua formação básica, desde que ele apresente condições psíquicas e emocionais propícias.
Contudo, deve-se considerar que, para toda regra, há exceção, o que exige bom senso e capacidade de decisão por parte dos que coordenam a atividade na Casa Espírita.
Há situações, por exemplo, em que o médium iniciante pode, concomitante com a aquisição de sua base doutrinária evangélico-espírita, integrar-se a um grupo mediúnico.
Nessa situação, ele é companhado de perto, a fim de que a sua formação espírita não seja descurada.
É sempre oportuno lembrar que não é imediato o encaminhamento de participantes que tenham concluído cursos de estudo e prática da mediunidade aos grupos mediúnicos. Deve-se, primeiramente, refletir que não é somente o estudo que habilita o tarefeiro ao exercício da mediunidade.
Há outros critérios a serem observados, quais sejam: equilíbrio emocional, assiduidade, propensão para o estudo, integração na Casa Espírita em atividade de auxílio ao próximo, compromisso com a tarefa, entre outros.
Importa acrescentar que nem todos os espíritas que já tenham formação doutrinária são portadores de mediunidade mais evidente, de efeitos patentes, no dizer de Allan Kardec, e que nem todo trabalhador espírita tem compromisso com a tarefa mediúnica propriamente dita.
Sendo assim, não há obrigatoriedade para a pessoa participar de uma reunião mediúnica, uma vez que na Instituição Espírita há inúmeras outras atividades que mantêm o trabalhador sob contínua ação dos Espíritos.
Contudo, os médiuns que têm mediunidade mais vidente revelam compromisso com a tarefa, já que toda faculdade é concedida tendo em vista um fim específico.
Compreende-se, em termos objetivos, como educação do médium, isto é, de sua mediunidade, o período que vai do afloramento da mediunidade até a sua integração efetiva, contínua e harmônica em uma reunião mediúnica, ainda que o aperfeiçoamento dessa faculdade psíquica continue ao longo das reencarnações e vivências no Plano Espiritual.
O médium será considerado apto a se integrar ao grupo mediúnico quando:
Já consegue discernir, de forma geral, as ideias que lhe são próprias e as que são oriundas dos Espíritos comunicantes;
Apresenta bom controle (educação) emocional e psíquico, conduzindo-se com respeitabilidade durante as manifestações dos Espíritos;
Revela esforço de combate às imperfeições e oferece condições para se dedicar com afinco à tarefa;
Demonstra disposição para servir com desprendimento, mantendo-se atualizado em termos doutrinários.
Nas fases iniciais da educação e do desenvolvimento da faculdade mediúnica, os médiuns devem ser acompanhados de perto por orientadores encarnados experientes, elementos ativos do quadro regular de trabalhadores da Casa Espírita, na Área da Mediunidade.
É importante destacar que cada Instituição Espírita tem suas normas e seus critérios de ingresso à reunião mediúnica, os quais não devem criar conflitos com os princípios espíritas da Codificação, nem de outras obras de inestimável valor doutrinário.
Nunca é demais acrescentar que o intercâmbio mediúnico implica conhecimentos e cuidados, a fim de se colherem os bons resultados.
A melhoria moral, aliada ao conhecimento espírita, oferece obstáculos às investidas dos Espíritos distanciados do Bem.
Todas as imperfeições morais são tantas outras portas abertas ao acesso dos Espíritos maus.
Porém, a que eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si mesma.
O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades e que, se não fora essa imperfeição, teriam podido tornar-se instrumentos notáveis e muito úteis.
O prestígio dos grandes nomes, com que se adornam os Espíritos tidos por seus protetores, os deslumbra, e como neles o amor-próprio sofreria, se houvessem de confessar que são ludibriados, repelem todo e qualquer conselho.[
Aborrecem-se com a menor contestação, com uma simples observação crítica, chegando mesmo a odiar as próprias pessoas que lhes prestam serviço.
Devemos também admitir que, muitas vezes, o orgulho é despertado no médium pelas pessoas que o cercam.
É também importante ressaltar que a prática mediúnica deve ser precedida de cursos regulares, teóricos e práticos, fundamentais à formação do futuro trabalhador da mediunidade.
O médium tem obrigação de estudar muito, observar intensamente e trabalhar em todos os instantes pela sua própria iluminação.
Somente desse modo poderá habilitar-se para o desempenho da tarefa que lhe foi confiada, cooperando eficazmente com os Espíritos sinceros e devotados ao bem e à verdade.
No período inicial do exercício mediúnico, o aprendiz deve desenvolver a capacidade de auxiliar os Espíritos que sofrem, educando-se para agir com equilíbrio e controle.
Tais Espíritos, embora se apresentem na condição de enfermos, devem ser devidamente esclarecidos e acolhidos fraternalmente no grupo, refletindo que a maioria deles, possivelmente, ainda não se acha bem adaptada à vida na erraticidade.
O tempo destinado à educação e ao desenvolvimento da faculdade mediúnica não é o mesmo para todo médium, mas está diretamente subordinado aos esforços de cada um.

Os Espíritos comunicantes, que demonstram graves perturbações, são, usualmente, encaminhados pelos Benfeitores espirituais aos grupos mediúnicos, nos quais a equipe revela melhores condições de atendimento e auxílio, porque nessas reuniões há maior homogeneidade de conhecimento espírita e união de sentimentos e pensamentos.
São grupos constituídos por um número reduzido de participantes, mas que revelam experiência e habilidade no trato com os Espíritos seriamente desarmonizados.
A prática mediúnica, realizada nessas condições, favorece:
Bom atendimento aos Espíritos portadores de graves desequilíbrios, como perseguidores, casos graves que envolvem suicídios, homicídios, desencarnação por torturas, ingestão de substâncias químicas viciantes etc.;
Frequentes manifestações dos benfeitores e orientadores da Vida Maior que esclarecem a respeito do melhor atendimento a tais entidades espirituais;
Instalação de equipamentos e realização de ações direcionadas para a defesa da Instituição Espírita.
Os integrantes mais experientes desse tipo de reunião mediúnica aprenderam a neutralizar ou amenizar o impacto das influências espirituais perturbadoras, adotando comportamentos de conduta reta, ordeira e moralizadora, além de atualização doutrinária, assim especificados:
Controle de emissões mentais, sentimentos e ações inferiores, por efeito da vontade sabiamente administrada;
Aperfeiçoamento do conhecimento espírita pela participação em cursos, encontros, seminários e estudo de obras espíritas;
Adoção do hábito da oração e da meditação;
Integração em serviço de auxílio ao próximo, exercitando, assim, a prática da caridade;
Empenho no combate às imperfeições, de acordo com os preceitos do Evangelho e do Espiritismo, tendo como guia a seguinte instrução de Paulo, o apóstolo, existente em O evangelho segundo o espiritismo:
Fazei, pois, com que os vossos irmãos, ao vos observarem, possam dizer que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, visto que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, seja qual for o culto a que pertençam.
Fonte:
Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas
Federação Espírita Brasileira
O livro dos médiuns, pt. 2, cap. 20, it. 228.
Autor: Allan Kardec.
O consolador.
Autor: Pelo Espírito Emmanuel, q. 39 -Francisco C.Xavier.
O evangelho segundo o espiritismo, cap. 15, it. 10.
Autor: Allan Kardec
Mensageiro da Luz.