O encontro que no caminho do Calvário teve o Filho com sua Mãe.
Jesus e Maria olham-se mutuamente, e estes olhares são como outras tantas setas que lhes traspassam o Coração amante.
Se víssemos uma leoa que vai após seu filho conduzido à morte, aquela fera havia de inspirar-nos compaixão.
E não nos moverá à ternura ver Maria que vai após o seu Cordeiro imaculado, enquanto o conduzem à morte por nós?
Tenhamos compaixão e procuremos também acompanhar a seu Filho e a ela levando com paciência a cruz que nos dá o Senhor.
Medita São Boaventura que a Bem-aventurada Virgem passou a noite que precedia a Paixão de seu Filho, sem tomar descanso e em dolorosa vigília.
Chegada a manhã, os discípulos de Jesus Cristo vieram a esta aflita Mãe: um a referir-lhe os maus tratamentos feitos a seu Filho na casa de Caifás, outro os desprezos que recebeu de Herodes, mais outro a flagelação ou a coroação de espinhos.
Numa palavra cada um dava a Maria uma nova informação, cada qual mais dolorosa verificando-se nela o que Jeremias tinha predito: "Não há quem a console entre todos os seus queridos".
Veio finalmente São João e lhe disse: "Ah Mãe dolorosa! Teu Filho já foi condenado à morte e já saiu, levando Ele mesmo a sua cruz para ir ao Calvário.
Vem se O queres ver e dar-Lhe o último adeus, em alguma rua por onde tenha de passar".
Ao ouvir isto Maria parte com João; e pelo sangue de que estava a terra borrifada conhece que o Filho já por ali tinha passado.
A Mãe aflita toma por uma estrada mais breve e coloca-se na entrada de uma rua para se encontrar com o aflito Filho, nada se-lhe dando das palavras insultuosas dos judeus, que a conheciam como mãe do condenado.
Ó Deus, que causa de dor foi para ela a vista dos cravos, dos martelos, das cordas e dos outros instrumentos funestos da morte de seu Filho!
Como que uma espada foi ao seu coração o ouvir a trombeta, que andava publicando a sentença pronunciada contra o seu Jesus.
Mais eis que já depois de terem passado os instrumentos e os ministros da justiça, levanta os olhos e vê ó Deus!
Um homem todo cheio de sangue e de chagas dos pés até a cabeça, com um feixe de espinhos na cabeça e dois pesados madeiros sobre os ombros.
Olha para Ele e quase não O conhece, dizendo então com Isaías: "Nós O vimos e não havia n'Ele formosura".
Mas finalmente o amor lho faz reconhecer e o Filho, tirando um grumo de sangue dos olhos, como foi revelado a Santa Brígida, encarou a Mãe e a Mãe encarou o Filho.
Ó olhares dolorosos com que como tantas flechas, foram então traspassadas aquelas almas amantes!
Queria a divina Mãe abraçar a Jesus, como diz Santo Anselmo; mas os insolentes servos a repelem com injúrias, e empurram para diante o Senhor aflitíssimo.
Maria porém segue muito embora preveja que a vista de seu Jesus moribundo lhe causaria uma dor tão acerba, que a tornaria rainha dos mártires.
O Filho vai adiante e a Mãe tomando também a sua cruz, no dizer de São Guilherme, vai após Ele, para ser crucificada com Ele.
Pergunta São João Crisóstomo porque nas outras penas Jesus Cristo quis ser só, mas a levar a Cruz quis ser ajudado pelo Cirineu?
E responde: Ut intelligas, Christi crucem non sufficere sinne tua: Não basta para nos salvar só a cruz de Jesus Cristo, se nós não levamos com resignação até a morte também a nossa.
Minha dolorosa Mãe, pelo merecimento da dor que sentistes ao ver o vosso amado Filho levado à morte, impetrai-me a graça de levar também com paciência as cruzes que Deus me envia.
Feliz de mim se souber acompanhar-vos com a minha cruz até a morte!
Vós e Jesus sendo inocentes, levastes uma cruz muito pesada, e eu pecador que tenho merecido o inferno, recusarei a minha?
Ah Virgem imaculada de vós espero socorro, para sofrer com paciência as cruzes.
Fonte:
Thren. 1, 22. Is. 53, 2.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I - Santo Afonso
Mensageiro da Luz